Manifestantes protestaram contra o racismo e qualquer tipo de preconceito, em Jardim da Penha, em Vitória, na tarde desta quinta-feira (24). O ato foi programado após o pastor João Britto, da Igreja Evangélica Batista de Vitória, retirar uma boneca africana de um painel feito por crianças da creche que divide espaço com a igreja.

Os manifestantes se concentraram na Praça Regina Frigeri Furno, conhecida como pracinha do Epa, por volta de 15h30. O grupo caminhou até o Centro Municipal de Ensino Infantil (CMEI) Professora Cida Barreto, onde foi realizado o projeto com alunos sobre diversidade. Bonecas Abayomi, como a que foi retirada pelo pastor Britto, foram distribuídas durante a passeata.

Abayomi era uma boneca criada por mães africanas que rasgavam retalhos de suas saias e confeccionavam através de tranças ou nós. As bonecas são símbolo de resistência e serviam para acalentar os filhos durante as viagens em navios de pequeno porte que realizavam o transporte de escravos entre África e Brasil.

PROTESTO

A manifestação foi organizada pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes) e contou com a participação da sociedade civil, de professores, sindicatos e do movimento negro como o Conselho Municipal do Negro (Conegro).

“Estamos mostrando o posicionamento contrário a qualquer tipo de interferência e ordem religiosa nas escolas. o pastor desrespeitou uma lei que trata da obrigatoriedade de ensinar outras culturas na escola”, afirmou o secretário de Combate ao Racismo do Sindiupes, Adriano Albertino, 38 anos.

Segundo o representante do Conegro, Antônio Carlos Nascimento, 62, a cada 23 minutos é exterminado um jovem negro no Brasil.

“Queremos uma paz sem racismo, sem homofobia,sem machismo e que tenha tolerância religiosa e respeito à nossa história. São 500 anos de racismo no Brasil”, afirmou.

(Com informações de Raquel Lopes, do jornal A Gazeta)

A POLÊMICA

O prédio em que a escola funciona pertence à igreja, mas é alugado pela Prefeitura Municipal de Vitória. O espaço onde são expostos os trabalhos dos alunos é de uso compartilhado entre o Cmei e a igreja. “Aquilo era um quadro com entidade de macumba. Se colocar qualquer símbolo religioso que confronte a Bíblia eu tiro, eu tirarei e, se repetir, eu tiro de novo”, enfatiza o pastor.

E continuou: “Quando foi feito o convênio com a prefeitura, ficou acordado que não iríamos intervir em nada. A escola é laica. Em contrapartida a escola também não deveria fazer nada que contrariasse os princípios evangélicos. Pra quê essa boneca? Tanta coisa para ensinar. Por que ensinar isso?”, questionou Brito.

O religioso disse que este foi um caso isolado. Mas, segundo uma pessoa que não quis se identificar, essa seria a segunda vez que um projeto de origem africana é retirado. O primeiro caso foi em maio.

A Secretaria de Educação de Vitória informou o projeto está em conformidade com as diretrizes curriculares nacionais da Educação Infantil. A secretária da pasta, Adriana Sperandio, afirmou que será marcada uma reunião com o pastor Brito. “Estamos agendando um diálogo junto ao pastor Brito na próxima semana para conversarmos sobre o ocorrido. A gente entende que, promovendo o diálogo, há perspectiva de avançarmos nesse sentido, sempre reconhecendo que a escola tem um projeto pedagógico cuja ação é voltada para a formação para a cidadania e isso, sem dúvida, deve ser assegurado”.

 

MATÉRIA RETIRADA NA ÍNTEGRA DO PORTAL GAZETA ONLINE