Quando falam em câncer de mama, os especialistas sempre batem na mesma tecla: que a cura depende da detecção precoce da doença. Para isso, a melhor arma continua sendo a mamografia, que consiste num raio-x capaz de identificar tumores em tamanho milimétrico, ou seja, ainda na fase inicial.
Em plena campanha do Outubro Rosa, volta à discussão a polêmica sobre a idade certa para fazer esse exame que pode salvar a vida de milhares de mulheres. O debate é importante num cenário que estima 600 mil novos casos de câncer de mama no Brasil este ano.
O Ministério da Saúde recomenda que a mamografia seja feita entre 50 e 69 anos de idade, baseado em evidências científicas que mostram que o rastreamento é mais eficiente nessa faixa etária. Assim, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), todas as mulheres desse grupo de idade têm acesso gratuito ao exame. Abaixo dos 50, só se houver um fator de risco determinado, como histórico de câncer na família.
Para médicos da área, no entanto, essa política não é a mais correta. Eles defendem que o procedimento seja feito, de forma rotineira, a partir dos 40 anos.
“De fato, a mamografia não apresenta bons resultados em mulheres jovens. Abaixo dos 50, a mama é mais densa, tem muitas glândulas, tornando a detecção de lesões mais difícil pela mamografia”, observa Luiz Alberto Sobral, ginecologista, professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e membro titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
Mesmo assim, para a SBM, ao excluir as mulheres de 40 a 49 anos dos programas de rastreamento, o governo retira as chances de muitas delas de ter a doença diagnosticada precocemente.
“Sabemos que abaixo dos 40 anos, o câncer é mais agressivo. Nossa Sociedade defende a prevenção à doença em sua completude. É preciso que a população feminina tenha acesso a especialistas mastologistas, ao todos os métodos diagnósticos e a um tratamento adequado”, destaca o médico.
Apesar dessa divergência, o que se vê, na prática, nos consultórios ginecológicos, é a indicação do exame para mulheres ainda mais jovens, com menos de 40 anos. “Costumo pedir a mamografia para pacientes acima de 35 anos. Os planos de saúde não têm barrado. Sempre tem algum fator de risco de for investigar”, diz a ginecologista Erika Marba.
Mergulhada na programação da campanha Outubro Rosa, sob sua coordenação no Estado, a Associação Feminina de Educação e Combate ao Câncer (Afecc) está direcionando o alerta este ano às jovens. E faz isso divulgando um dado interno, colhido nos registros do Hospital Santa Rita, em Vitória, instituição referência no tratamento ao câncer: 36,4% dos diagnósticos de câncer de mama são em mulheres na faixa etária dos 20 aos 49 anos.
“Não queremos entrar nessa briga sobre qual a idade ideal para a mamografia. Nosso papel é fazer um alerta às jovens. Nossas estatísticas estão mostrando que a incidência do câncer de mama em idade mais nova está crescendo. As mulheres precisam ter uma vida mais saudável e se cuidar desde cedo, conhecer o próprio corpo e ir ao médico anualmente. Ele é que vai definir se o exame é indicado ou não”, diz a vice-presidente da Afecc, Marilúcia Dalla.
ENTENDA A POLÊMICA
O que diz o Ministério da Saúde
Faixa etária
A recomendação do Ministério da Saúde é que mulheres com 50 a 69 anos sem sinal da doença façam o exame a cada dois anos
Justificativa
Para o órgão, a inclusão de mulheres com 40 a 49 anos no exame “tem limitada evidência de redução da mortalidade, além do fato de o balanço entre riscos e possíveis benefícios do rastreamento ser desfavorável”
Periodicidade
Diz que “não há evidências conclusivas de que a periodicidade anual traga mais benefícios do que a bienal, e os danos associados ao rastreamento aumentam muito”
O que defende a sociedade brasileira de mastologia (SBM)
A partir dos 40
Recomenda a mamografia anual para as mulheres a partir dos 40 anos de idade visando ao diagnóstico precoce e a redução da mortalidade
Incidência
“As pesquisas evidenciam que, nos países desenvolvidos, a taxa de casos de câncer de mama entre os 40 e 50 anos gira entre 10% a 15%, enquanto que nos países em desenvolvimento esta taxa é de mais de 30%”
Necessidade do exame
A SBM cita um estudo canadense feito com quase 3 milhões de mulheres segundo o qual houve uma redução de 40% na mortalidade por câncer de mama na população feminina de faixa etária entre 40 e 79 anos que fez a mamografia anual.
Matéria Retirada na Íntegra do Portal Gazeta On Line.