Aparecer a qualquer custo. Ao custo da ética, da legalidade, da dignidade humana… A difusão vertiginosa de fotos de policias se exibindo com um bandido preso, que também se exibia, em registros moldados para curtidas, comentários e compartilhamentos, coloca em pauta a compulsão à publicação que convulsiona a atualidade.
A questão da visibilidade toca diretamente à constituição do humano. Nascemos e crescemos banhados pelo olhar de quem nos rodeia. Mas esse não é o único vínculo intersubjetivo que estabelecemos na conformação de nossa subjetividade. Assim, o que está criando uma verdadeira onda de mendicância pelo olhar alheio?
A resposta óbvia é que vivemos na era das imagens, em que as relações se articulam em torno de escambos imagéticos. Sim, mas não apenas. Parece pertinente supor que o consumismo tenha alcançado níveis inimagináveis, colocando-nos a todos na vitrine de um e-commerce humano, reduzindo-nos a imagens consumíveis, a conteúdos multimidiáticos disponíveis no shopping de experiências das redes digitais.
Estamos no tempo da vida para consumo – viver para consumir e ser consumido, principalmente nas multitelas da sociedade dos espetáculos. O combustível desse vício mortífero para o espírito civilizado e a alma humana é a lógica da mercadorização de tudo, numa sociabilidade em que, crescentemente, para existir é preciso perceber e ser percebido midiaticamente.
Numa disputa fratricida e comunicacional pela atenção, ofertamo-nos como personas midiáticas objetificadas, crescentemente bizarras, pois, numa atmosfera digital inflacionada de publicações, o prosaico já perdeu o apelo há tempos, dando lugar à banalização da existência como recurso de visibilidade.
Dessa forma, na luta pela sobrevivência numa selva de telas, apesar de assustador, não é de todo estranho que os valores e limites civilizatórios sejam as primeiras vítimas de uma sociabilidade que condiciona o existir ao vício consumista das trocas exibicionistas – a qualquer custo, inclusive ao custo de um lamentável e barbarizador canibalismo midiático.
Matéria Retirada na Íntegra do Portal Gazeta On Line.